A Heroica Lenda de Arslan (Volume 1)

. Ficha Técnica – A Heroica Lenda de Arslan, Volume 1

- Título original: アルスラーン戦記 (Arslan Senki)
- Autor: Yoshiki Tanaka
- Arte: Hiromu Arakawa
- Baseado na obra original: Arslan Senki (romances escritos por Yoshiki Tanaka, iniciados em 1986)
- Gênero: Fantasia histórica, aventura, drama, ação
- Editora japonesa: Kodansha (Bessatsu Shōnen Magazine)
- Editora brasileira: JBC
- Volume 1

. Resenha

O primeiro volume de A Heroica Lenda de Arslan começa com um cântico ancestral, um aviso de uma tragédia imersa em poeira e sangue.  Desde as primeiras páginas, o leitor é transportado a Pars, um reino majestoso e orgulhoso, onde o sol parece brilhar exclusivamente para exaltar o poder do rei Andragoras III.  Porém, por trás das lanças levantadas e dos estandartes dourados, existe um presságio de destruição — e é nesse contexto que aparece Arslan, um príncipe com um olhar delicado demais para o mundo que lhe espera.

Arslan é retratado como uma pessoa que não se encaixa no padrão da realeza.  Ele possui uma espécie de inocência que o afasta do trono, porém o aproxima do leitor, enquanto seu pai representa o ideal da força e sua mãe simboliza o gelo do desprezo.  Seu modo de existir possui uma fragilidade — uma ternura quase deslocada em um mundo que exalta a guerra e a obediência cega.  Quando o império de Lusitânia invade Pars sob o estandarte da fé, essa delicadeza é posta à prova. O império traz consigo um exército de fanáticos e um discurso de pureza divina que arrasa tudo em seu caminho.

A batalha de Atropatene, o ponto culminante deste volume, é uma sequência de beleza implacável.  Hiromu Arakawa converte a guerra em um espetáculo coreografado, no qual a poeira se funde ao fogo e as emoções humanas variam entre o desespero e a bravura.  É nesse ponto que o destino de Arslan se divide: o jovem príncipe, ao presenciar a traição de Kharlan — um dos generais mais leais ao trono —, perde tudo o que lhe era familiar.  O exército de Pars é destruído, o rei é aprisionado e o reino, que antes era um símbolo de glória, é reduzido a ruínas.

Porém, o que realmente marca o volume não é a magnitude da derrota, mas o surgimento silencioso da esperança.  Arslan começa a entender a responsabilidade de ser herdeiro — não de um trono, mas de um povo destruído — fugindo do massacre, acompanhado apenas por Daryun, o general que prometeu protegê-lo até o fim.  Com o olhar empoeirado e lacrimejante, ele deixa de ser apenas um príncipe e transforma-se em um fugitivo, um símbolo delicado e radiante que carrega, sem consciência, a promessa de renascimento.


A arte de Arakawa materializa esse contraste: a guerra brutal e a juventude pura.  O traço é nítido, porém não impessoal; cada linha oscila entre a intensidade do campo de batalha e a tranquilidade do olhar de Arslan.  Em cada página, há uma emoção contida, como se a narrativa inteira estivesse imersa na nostalgia de algo que se foi.

Assim, o primeiro volume é uma introdução majestosa e dolorosa.  Yoshiki Tanaka retrata a queda de um império não só como um acontecimento político, mas também como um rito de passagem.  O leitor experimenta o impacto junto a Arslan — a desintegração de tudo que parecia seguro, o começo de uma jornada que não procura vingança, mas propósito.  E quando a poeira da batalha se dissipa, o que sobra é apenas um garoto, pequeno frente ao horizonte, porém com um olhar que já revela o peso e a grandeza de seu destino.

A Heroica Lenda de Arslan inicia onde a glória chega ao fim.  E é nesse momento — entre a destruição e o recomeço — que a emoção se estabelece, delicada e arrasadora.

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