O volume dois aprofunda a ideia central de Asano: retratar um apocalipse que foi assimilado pela rotina. A nave alienígena continua pairando sobre o céu de Tóquio, as atividades militares prosseguem, e a cidade permanece como sempre — ou melhor, como sempre, sem qualquer sentido real. A alienação tornou-se um modo de vida.
A crítica social também se acentua: a mídia distorce deliberadamente o conflito com os "Invaders" (aliens), retratando-os como monstros, enquanto o próprio governo encobre atrocidades. O massacre de aliens inocentes — representados aqui como seres pequenos e frágeis — revela o verdadeiro antagonista da série: a humanidade.
Essa inversão de papéis é uma das marcas mais fortes do volume. Os invasores se mostram vulneráveis e deslocados, enquanto os humanos seguem exercendo sua violência sob o disfarce da soberania nacional.
As protagonistas continuam a lidar com o colapso de maneira oposta.
Kadode mantém-se introspectiva e desiludida. Sua admiração por Mr. Watarase torna-se mais evidente — não como um romance real, mas como uma fuga mental. O professor, que aparenta ser gentil, revela traços estranhos, talvez perturbadores. Há indícios de que sua relação com as alunas não seja tão inocente quanto parece. Inio Asano cultiva essa dúvida com maestria.
Ontan, por sua vez, afunda ainda mais no cinismo e na atuação performática. Ela zomba de tudo e de todos, inclusive de suas amigas. Sua aparente inocência esconde uma desconfiança profunda no mundo adulto e em suas instituições. A leveza que demonstra começa a soar inquietante: até quando ela conseguirá sustentar essa máscara sem desmoronar?
O ápice do volume traz uma das cenas mais brutais e simbólicas até aqui: soldados das Forças de Autodefesa perseguem um pequeno alienígena ferido e o executam friamente em meio aos escombros. A criatura, de aparência frágil e quase infantil, lembra um mascote de anime para crianças — o que torna a violência ainda mais cruel e perturbadora.
É um massacre sem justificativa militar real, apenas mais uma engrenagem da máquina de medo e controle. A cena é desconfortável de propósito: Asano obriga o leitor a perceber que o verdadeiro inimigo talvez não venha "de fora".
A questão inevitável se impõe: quem está invadindo quem? Os extraterrestres ameaçam o planeta ou os humanos ameaçam a própria humanidade?
Mais uma vez, a arte se destaca e causa impacto. A contraposição entre personagens de traços simples e cenários hiper-realistas gera uma sensação constante de deslocamento. A imensa nave, sempre presente no céu, impõe-se em todas as cenas — mesmo quando ninguém a menciona.
Essa visão ilustra perfeitamente o que o roteiro sussurra: o desastre tornou-se invisível porque foi aceito.
Sinais de um futuro sombrio
Além da violência militarizada, o volume insinua mais fissuras:
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A obsessão do professor Watarase parece crescer.
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Ontan revela sua capacidade de manipular as pessoas.
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Os noticiários mentem cada vez mais descaradamente.
O desastre real não virá do espaço — ele já está aqui, crescendo dentro das relações humanas.
O Volume 2 confirma o que o primeiro já sugeria: Asano não pretende contar uma história de invasão alienígena, mas sim uma sobre a apatia humana. Os verdadeiros monstros são o medo, o controle, a indiferença e a mentira.
O mundo está à beira do colapso — e ninguém parece notar. A análise política e existencial de Asano revela-se cada vez mais afiada e sombria.
Uma leitura densa, incômoda — e brilhante.
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