. Título original (japonês): ルーヴルの猫 (Rūvuru no Neko)
. Autor: Taiyo Matsumoto (松本大洋)
. Gênero: Drama, Fantasia, Realismo mágico, Arte
. Revista: Big Comic Original (editora Shogakukan)
. Editora nacional: JBC.
Na imensidão silenciosa do Museu do Louvre, onde obras-primas descansam na obscuridade noturna, existe um pequeno universo oculto: o dos felinos. No volume inicial de Os Gatos do Louvre, Taiyo Matsumoto nos convida a explorar esse limite tênue entre arte e vida, guiando-nos por uma história onírica, melancólica e intensa.
A história começa com a chegada de Cecile, nova funcionária do museu, que se junta à rotina silenciosa do lugar, guiada por Marcel, um veterano vigia noturno que guarda uma dor íntima. Ao mesmo tempo, conhecemos a comunidade de gatos que habita os sótãos do Louvre — criaturas que, embora escondidas dos olhares humanos, vivem com consciência, personalidade e, no caso do misterioso gato branco conhecido como Filho da Neve, algo mais: a capacidade de "entrar" nas pinturas.
Esta habilidade extraordinária atua como metáfora principal para o mangá: o anseio de fugir do mundo, buscar refúgio na arte, sentir-se integrado em um ambiente onde o tempo e o padecimento cessam. Marcel, um homem quieto e aparentemente inflexível pela vida, se desvenda gradativamente à medida que recordações do passado surgem, particularmente o desaparecimento de sua irmã, um desaparecimento que parece refletir a habilidade do Filho da Neve. Ela, tal como o gato, teria se escondido para sempre dentro de uma tela?
Nos capítulos iniciais, a história se alterna entre a perspectiva humana e a dos felinos. Os felinos, cada um com suas características únicas, debatem, sonham e questionam o mundo ao redor. Trata-se de um conjunto caracterizado por uma sensibilidade incomum e tocante. Taiyo Matsumoto os retrata de maneira quase humana, sem perder a essência animal. O traço do escritor é leve e expressivo, com uma textura suave que se harmoniza com o caráter poético e surreal do trabalho.
A verdadeira estrela desses capítulos é a atmosfera. Entre salas obscuras, escadarias de mármore e pinturas que parecem vibrar, somos tomados por um sentimento incessante de nostalgia e enigma. O Louvre não é somente um cenário, mas também um personagem, um guardião e um labirinto. As obras de arte não são meramente objetos de contemplação, mas também portais e espelhos da alma.
No desfecho, a tensão entre os universos começa a aumentar. Cecile começa a questionar os costumes noturnos do museu, Marcel relembra suas aflições e os gatos notam que algo está prestes a ocorrer - talvez um novo desencontro entre os mundos real e artístico esteja a caminho.
Os Gatos do Louvre é uma abertura lírica e lenta, mas cheia de camadas. Combinando realismo mágico e reflexão existencial, Taiyo Matsumoto constrói uma narrativa sobre perdas silenciosas, a função da arte como abrigo e a tênue fronteira entre contemplar e desaparecer. É uma obra que exige do leitor sensibilidade e tempo, mas que recompensa com beleza, mistério e uma atmosfera única.
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