A Menina do Outro Lado (Volume 3)

- Ficha Técnica

. Título original: とつくにの少女 (Totsukuni no Shōjo)
. Autoria: Nagabe
. Editora original: Mag Garden
. Gêneros: Fantasia sombria, drama, conto de fadas, mistério, alegoria
. Editora: DarkSide Books

- Resenha

O volume 3 de A Menina do Outro Lado pode ser considerado o momento em que a magia inicial começa a se desvanecer — é quando a poesia que até então mantinha a conexão entre Shiva e o Professor começa a se mesclar com a consciência amarga do que os distancia. Nagabe converte a suavidade da convivência em algo mais profundo: um silêncio repleto de presságios, uma ternura ameaçada pela presença cada vez mais evidente da maldição.

Shiva, ainda presa à inocência da infância, busca entender o mundo por meio de ações simples: colher flores, aguardar visitas e questionar sobre uma avó que nunca chegará. Por outro lado, o Professor se afunda na incerteza — já não sabe se é protetor, prisioneiro ou pecador. Ele observa a menina com uma combinação de adoração e medo, sabendo que o toque que poderia acalmá-la é também o que poderia arruiná-la. Em Nagabe, o amor é sempre proibido e a pureza nunca oferece uma proteção total.

Neste volume, o mundo exterior começa a penetrar o refúgio que eles criaram. Há ecos da cidade, murmúrios dos "de dentro" e um avanço gradual, porém inescapável, para o confronto. O cenário, que anteriormente parecia um sonho etéreo, adquire características mais sólidas: as linhas tornam-se mais angulosas, as sombras mais densas. Tudo indica que o período de inocência está chegando ao fim.

E, mesmo assim, existe beleza. Uma beleza trágica e delicada, semelhante à luz que passa por um vitral quebrado. Nagabe retrata a sensação de cuidado como uma prece silenciosa: o Professor, em sua aparência monstruosa, se ajoelha perante a humanidade da criança; Shiva, sem entender, o enxerga como pai, como abrigo. É nesse descompasso — entre o que se entende e o que se sente — que o mangá descobre sua essência poética.

Desse modo, o terceiro volume é um limiar. A linha divisória entre o sonho e o exílio, entre o mito e a realidade. Tudo que era delicado adquire um peso espiritual e cada ação entre eles passa a ter a carga da impossibilidade. O leitor nota que a narrativa não se dirige à salvação, mas à aceitação — uma aceitação do amor que, embora puro, também precisa ser triste.

Ao concluir a leitura de A Menina do Outro Lado, fica a sensação de que a obra aborda menos a dicotomia entre o bem e o mal e mais o espaço intermediário entre eles: aquele silêncio onde o humano e o inumano se encontram — não fisicamente, mas em nível espiritual.

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